Hoje vou contar a verdade sobre tudo. Lamento, não posso mais continuar com isso. Me desculpa, mas não sei jogar. Não consigo usar artifícios, me esconder atrás de olhares cúmplices e risinhos sem graça. Não quero te decepcionar, mas você precisa me conhecer por inteiro. E vai ser agora.
A gente tem e sempre vai ter a escolha de pegar ou largar, ir ou ficar, se abraçar ou se soltar de vez. Ainda bem que somos livres e que podemos desistir ou voltar para os braços de quem nos quer bem. No fim das contas, o que vale é a sensação de alívio e paz. Sabe quando você está sujo, suado, cansado e toma um longo e bom banho quente? Pois então, é exatamente isso, é essa a sensação: conforto. Quero que você fique confortável. Por isso, vou me revelar.
Gosto de filmes bobocas tipo "Procura-se um amor que goste de cachorros", "A sogra", "Armações do amor" e "Como perder um homem em 10 dias". Na verdade, qualquer filme com "amor" no título eu já gosto. Apesar de amar bichos, hamsters me dão arrepios e prefiro cachorros do que gatos. Não tolero aranhas e moscas e acho que largatixas podiam não existir no planeta. Esqueci a Fórmula de Bhaskara, não sei nada de física quântica, não sei nada de Michel Foucault, conto nos dedos, não gosto de Carnaval, adoraria saber falar italiano, meu sotaque gaúcho é forte, meu cabelo nem sempre é meu amigo, não entendo nada de futebol, de vez em quando eu surto, queria ter vários quilos a menos e alguns centímetros a mais, não gosto do meu pé, meu dedão direito da mão é estranho para carajo, minha vida de vez em quando é uma novela mexicana, eu faço muito drama, trabalho muito e ganho pouco, queria ganhar a vida escrevendo, nenhuma editora me chama para tomar o chá das cinco, minha conta vive no limite, não sou expert em relacionamentos e relações, ao contrário do que todo mundo pensa eu tenho muitos problemas, sim, eu tenho muitos problemas, eu não sou uma guru, uma ninja, "uma deusa, uma louca, uma feiticeira", faço terapia uma vez por semana para tentar me encaixar nesse mundo maluco e doente, queria saber cantar direito, não gosto do Faustão nem do Aerosmith, detesto essa onda sertaneja e axezeira, queria um dia falar alguma frase de efeito bacanona só para poder encaixar a palavra "inconstitucionalissimamente" e não, eu não fui no show do Paul McCartney.
Desculpa. Sério mesmo, de coração, de verdade, com sinceridade. Sou assim mesmo. Não sou nenhuma intelectualóide, nem pretendo ser modernosa, descolada, super in, sei lá, me sinto tão por fora de vez em quando. Me sinto over. E lamento informar: já comprei muito livro pela capa. É isso mesmo: achava a capa bonita e, plum, comprava. Qual o super mega ultra power master escritor faz isso? Qual pessoa cool faz isso? Me diz.
Mas essa é a realidade: não quero ser cool. Não quero ser intelectual. Não quero ser moderna. Não quero ser descolada. Não quero ser capa de revista. Não quero estar na moda. Não quero ser escritora com nariz em pé. Não quero ser Oh. Não quero ser nada disso. Quero uma vida simples. Ler, escrever e ser lida. Amar e ser amada. Trabalhar, pagar as contas, viajar e me divertir. Estar com quem eu gosto. Não fazer tipo, poder sair com a minha cara - e o que me resta de coragem - pelo mundo afora. E se tiver um pouco de glamour sobrando, pode me dar, eu aceito. Com duas pedrinhas de gelo, por favor.