Meu lado que ninguém percebe

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Eu disfarço muito e quase ninguém percebe. Tem um monte de gente por aí que acha que me conhece o suficiente. Outros tantos acham que sabem o bastante sobre a minha vida. Entra no meu mundinho quem eu deixo. Acho que a gente não deve escancarar a vida, tem coisa que é só nossa e de mais ninguém. Quanto mais a gente dá liberdade para os outros mais eles se sentem no direito de se intrometer e meter o bedelho. Não gosto, pois da minha vida cuido eu. Das minhas coisas só eu sei. Do nosso amor a gente é que entende e sente.


Muita gente me acha bem extrovertida e falante. E eu sou. Mas uso isso como uma espécie de proteção, camuflagem, escudo. No fundo, acredite, sou tímida. Bem tímida. Sou tão tímida que fico vermelha quando me envergonho. Vermelha mesmo, pareço um pimentão. E apesar de ser libriana eu odeio aparecer. Juro.


Sempre tive peito grande, por isso andei com os ombros curvados por grande parte da adolescência. Tinha vergonha dos peitos, de pensarem olha-lá-ela-já-tem-peitão. Eu chamava atenção, tinha sardas, era loira, peituda, bunduda, então tinha vergonha de ser mulher, queria me esconder, não queria ser notada, não queria me destacar. Era o oposto de todas as meninas da minha idade: todas queriam chamar atenção de alguma maneira. Eu queria me esconder do mundo até o fim do mundo.


Na verdade, acho que sempre tive vergonha do meu lado mulherão. Por isso, até hoje me escondo atrás de meninices. Gosto de pijamas fofos, coisas com fru-frus, abobadices e coisas queridas em geral. E o lado mulherão? Cadê a cinta-liga, o batom vermelho, o olhar fatal, a jogada de cabelo? Não sei. Sei que isso tudo está em algum lugar de mim, mas acho que por tanto tempo escondi meu lado uau que agora ele brinca de pega-pega comigo. Tomara que eu consiga ter a coragem de pegá-lo de uma vez e, enfim, não ter a menor vergonha de me descobrir e ser quem eu, lá no fundo, sou.








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