Acho que descobri algumas coisas. Por mais que diga que não, acredito que você tem um medo grande aí dentro. Medo de perder o controle, o espaço, a individualidade, o domínio do corpo e da alma. Medo de não saber como fazer, de não ter pra onde ir e pra onde voltar. Medo de mudar e se transformar.
Não, não é fácil. Tem gente que pensa que se entrega, mas coloca só a ponta do dedinho na água da piscina, pra ver se está gelada, pra decidir se entra ou não entra. Eu me atiro, não importa se o tempo está quente ou frio, não faz mal se a água está limpa ou podre. Me atiro sem pensar. Não que eu já não tenha hesitado ou me ferido. Já fiquei com medo de ir, já pensei e pensei. Mas hoje isso tudo parece um livro que li, parece uma história que me contaram. Hoje nem parece eu, está distante, entende? E decidi que vezequando pensar só piora as coisas. Mesmo que a piscina esteja com bem pouquinha água, mesmo que eu me jogue com uma força violenta e me quebre e morra.
A gente não deve abrir mão de algumas coisas, principalmente de ser a gente mesmo. Mas temos que ceder. Pra alguma coisa dar certo, trabalho, amizade, casamento, a gente tem que ceder, tem que fazer sacrifício, tem que engolir sapo, tem que tentar colocar panos quentes, tem que dizer o que sente, tem que fingir que não ouviu, tem que fazer ir pra frente. Não dá pra levar tudo ao pé da letra, mas também não dá pra se fazer de louco a vida toda.
Temos que entender que os medos fazem parte, sim, dessa vida (e que bom que fazem). Você não pode me culpar por coisas que estão na sua cabeça, pelo que deu errado na sua vida, pela camisa que desbotou, pela conta que está vencida. Não tenho poderes mágicos, não adivinho o que você pensa - e nem quero. Só quero não deixar acumular, não deixar juntar, não deixar essa coisa toda que é bonita descolar. Por isso, eu digo: livre-se de medos e culpas. Porque eu vou continuar aqui. Sempre.