Sou um pouco radical. Acho que atualmente os pais proporcionam diversas atividades para os filhos para se livrarem de certos compromissos. Exatamente, é bem isso. Mais fácil, cômodo, seguro. Tem motorista para buscar na escola e para levar para casa. Tem empregada para fazer o almoço e passar o uniforme. Tem telentrega quando você está sem saco de fazer feijão, arroz e bife. Tem Miojo para as horas de aperto. Tem bolacha recheada de café da manhã, ao invés de pão, leite e queijo. Tem bolo para o lanche da escola ao invés de fruta. Tem você deitado ao lado do filho ao invés de ensinar que ele tem cama para dormir. Tem falta de educação ao invés de castigo e noção de certo e errado.
É fácil ser mãe quando o filho tem natação, ballet, ginástica olímpica, aula de tênis, inglês, espanhol, francês, japonês e mais mil atividades. É fácil ser mãe quando você tem babá e empregada pra cozinhar. É fácil ser mãe quando você tem a sua mãe para cuidar do seu filho enquanto você viaja pelo mundo afora. É fácil ser mãe quando você não troca fralda e não acorda no meio da noite. É fácil ser mãe quando você sai com alguém vestido de branco que limpa o vômito do seu filho.
Me desculpa, mas esse tipo de mãe não merece o meu respeito. A mãe que posa ao lado da foto com o filho só pra bonito não valorizo. Dou valor para a mãe de verdade, aquela que acorda no meio da noite pra ver se o filho está respirando, aquela que revisa o tema de português, aquela que não dorme enquanto o filho não chega, aquela que diz muitos nãos, aquela que fala "olha, essa conversa é de adulto, vai para o teu quarto", aquela que diz quais são os limites.
Crianças precisam e sempre vão precisar de limites. Não, eu não tenho filhos. Mas entendo de pessoas, de mulheres. E sei bem a mãe que quero ser. A minha mãe, por exemplo, abriu mão da carreira para cuidar dos filhos. Bonito, nobre, mas não quero fazer igual. Agradeço tudo que ela fez, mas não faria da mesma forma. A mulher, antes de ser mãe, é um indivíduo. É uma mulher com gostos, vontades, anseios. Tem que cuidar da própria vida. Dos interesses. Dos trabalhos. Do homem que ama. A criança chega para complementar. Sei, eu sei que muda tudo. Muda o corpo, a cabeça, a alma. Mas o seu filho não pode se tornar o centro de tudo, o centro do mundo. Um dia ele vai seguir adiante, com a mochila nas costas e seus ensinamentos na cabeça e no coração. Ele também é um indivíduo que tem vida, interesses, anseios, sonhos. Ele vai bater asas. Os filhos aprendem a andar pequeninhos. E depois grandes. E as mães, todinhas, precisam lidar com isso. Com o ganho. E com a perda. Isso é tão bonito, tão vivo, tão incrível.
Toda mãe precisa cuidar do corpo e da mente. Para não enlouquecer e para não deixar de ser mulher. Cuidar de si mesma é essencial, vital. Isso faz com que você goste mais de você, com que o outro goste mais de você e com que o seu filho goste mais de você. Se você estiver bem com você mesma tudo fica mais fácil.
A mãe não pode ir pelo caminho mais fácil (manter a criança ocupada para não se ocupar da criança) nem pelo caminho mais difícil (abrir mão de tudo para tomar conta dos rebentos). Ser mãe é difícil, ser mãe é buscar o constante equilíbrio.
P.S.:Parabéns para todas as mamães. Parabéns, principalmente, para a minha mãe, que sempre foi Mãe com eme maiúsculo. E parabéns para as minhas duas avós.