Como a gente mente. Diz que nunca mais vai ligar, que começa a malhar na segunda, que nunca mais vai beber, que vai começar a dieta, que agora vai ser diferente. Afinal, queremos enganar quem? Eu vivo me passando a perna enlouquecidamente. E continuo com aquele sorriso cara de pau negando tudo para o espelho. Não vi nada, não sei de nada, não me pergunta quem foi.
Quantas vezes você já ficou olhando o telefone fazendo mantras obsessivos para o pobrezinho tocar de uma vez? Quantas vezes você já comprou uma calça jeans um pouco mais folgadinha só pra dar a impressão de que você está na mais bela forma? Quantas vezes você já disse ah, hoje não vou na academia porque tá frio, hoje não vou porque tá chovendo, hoje não vou porque tô com cólica, hoje não vou porque estou com uma bolha no dedão esquerdo, hoje não vou porque é o último capítulo da novela? Eu já fiz tudo isso e muito mais. Sou uma Pinóquia da Vida Real.
Sinto medo de algumas coisas. Uma delas é da pia cheia. Fico disfarçando, olhando para o outro lado, finjo que não vejo. E a pia lá, enchendo. Fecho os olhos, passo correndo pela cozinha, a louça empilha lindamente enquanto uso meus disfarces.
Por que tem coisas que a gente não gosta e faz mesmo assim? Parece que precisamos nos testar ininterruptamente. Tecnicamente, estou de dieta. Nada de pão de queijo, nada de massa, nada de arroz, nada de carboidrato, nada de doce. Tecnicamente, estava na TPM. E comigo acontece o seguinte fenômeno: minha TPM dura uma semana. Começa na sexta de uma semana e termina no sábado da semana seguinte. Nesses dias sou uma pessoa horrível. Sensível, irritada, uma montanha-russa danada. Nesses dias eu sinto muita fome. Vontade de doce, vontade de salgado, vontade de doce, vontade de salgado, não para nunca, é um funk louco: doce, salgado, doce, salgado, doce, salgado. Depois não entendo por qual motivo meus jeans estão empilhados no fundo do armário, sem uso e com cara de rejeitados.
Voltando, eu dizia que tem coisas que a gente não gosta e mesmo assim faz. Não gosto de não entrar na calça. E mesmo assim hoje comi uma deliciosa tortinha de limão com creme. Eu sei, eu sei, é hormonal, quando a mulher está menstruada fica toda errada, come mais, blá blá blá (olha eu aí arrumando desculpas toscas).
Não gosto de filmes de suspense com bebês. Sério, não gosto. Filmes de terror e suspense que envolvem bebês me dão aflição. Musiquinha de criança, berço vazio, criança que é o demo, babá que é maluca, mãe que é desequilibrada, sustos, cena clássica da mãe que olha para a criança no balanço e depois olha de novo e o balanço balança sozinho. Medo. Não gosto, fico impressionada. E mesmo assim vejo. É mais forte que eu. O mesmo acontece com filmes de espíritos. Tenho medo. Me c-a-g-o de medo. E vejo. Depois saio correndo feito maluca pela casa, achando que vi um vulto, ouvi uma voz, senti uma presença (Bradesco).
Segunda-feira nunca é um dia legal. E eu me engano, penso assim calma, é segunda, mas amanhã é terça. Daí chega a terça e eu digo calma, amanhã já é quarta. Aí chega a quarta, a novela termina mais cedo por causa do jogo, tem Brothers & Sisters, me sinto quase feliz porque a quinta está quase batendo na porta. E chega a quinta, serelepe e convencida. A quinta é uma sinalização de que o final de semana está próximo, bem próximo. Enfim, a sexta. Linda, louca, cansada. Nasci em uma sexta, deve ser por isso que adoro tanto esse dia. A sexta é uma benção. Essa minha estratégia-de-engano-para-a-semana-passar-mais-rápido quase sempre dá certo. É que tem alguns dias que se arrastam. Esses são complicados, nesses não consigo dar uma de Pinóquio. Mas até que na maioria das vezes eu me saio bem. Só tomo o cuidado para não me enganar tanto, pois meu nariz é o que mais gosto no meu rosto.