Não gosto de sujeira. Lembro que eu ficava louca com minha mãe, pois enquanto ela ainda estava mastigando levantava para tirar os pratos da mesa. Eu dizia "mãe, come com calma, depois a gente tira a mesa". Meu pai também falava, mas não adiantava nada. Isso me irritava, pois eu pensava que os pratos não iriam fugir. Um dia, vi que fazia igual. Comecei a rir sozinha, lembrando das vezes que impliquei com ela.
Com a minha mãe também aprendi a ir cozinhando e lavando. É tão mais fácil. Dá tão menos trabalho. A gente corta o brócolis, depois lava a tábua e a faca. E vai fazendo e vai lavando, fazendo e lavando, fazendo e lavando. Quando a gente se dá conta fica tudo pronto e tudo limpo.
Eu tinha umas manias de limpeza meio chatas. E, confesso, sou a maior consumidora de aromatizador de ambientes. Compro vários, de diversos cheiros, adoro casa com cheiro bom. Também sou fascinada pelo Veja de maçã-verde. Era tão chata, mas tão chata que brigava quando tinha um copo sujo. Era tão chata, mas tão chata que ficava possuída quando a pia do banheiro sujava de pasta de dente.
Um dia, acabei descobrindo que não gosto é das minhas sujeiras internas. Que o mundo não vai terminar se a cozinha passar uma noite suja. Ou duas. Ou três. Que não é uma tragédia o prato ficar um pouco mais em cima da mesa. E que não é nada saudável levantar enquanto a gente ainda está mastigando. Relaxei um pouco quanto a isso. Mas continuo não gostando de sujeira.
Quando eu era pequena e a minha mãe colocava uma roupinha em mim eu não gostava de me sujar. Não era que nem as outras crianças que gostavam de brincar na rua, voltar com os pés imundos. Se caía um pouco de água ou leite na minha roupa eu dizia mãe, sujou. E queria trocar. Até hoje sou assim. Pode até estar bagunçado, mas sujo não. É que aprendi desde cedo que a gente tem que ter sentimentos limpos.