Uma hora ou outra você vai se perguntar se quer ter filhos. Pode ser que isso aconteça com 35 anos, pode ser que você alimente esse sonho desde os 15. Pode ser que esse seja o maior desejo da sua vida, pode ser que seu instinto maternal tenha surgido só perto dos 40. Não importa, chega um momento em que inevitavelmente você vai se questionar: quero ou não quero?
Existem famílias consideradas "normais" (entre aspas mesmo), com pai, mãe, criança. Existem famílias com dois pais, duas mães, um pai, uma mãe. Existem crianças criadas pelos avós. Existem diversos tipos de família. Em um desses tipos você vai querer (ou não) construir a sua. Para mim todas elas são normais. Sem aspas.
Dizem que para quem tem um parceiro é mais fácil ter um nenê. Eu concordo em termos. Realmente é bem mais fácil ter um homem ao lado, afinal, a gente sabe desde muito tempo que para uma criança nascer precisa de um óvulo e de um espermatozóide campeão. Depois, a natureza se encarrega e a sua barriga começa a aparecer. Parece simples, não? Mas não é.
Você e seu marido podem estar em momentos completamente diferentes. Você, com os hormônios em festa, está louca por um bebê. Você, desde sempre, adora criança. Você, desde muito tempo, sempre quis ser mãe. Seu marido, até conhecê-la, nunca tinha pensado em ter família, filho e todas essas coisas que a gente tem quando encontra alguém para compartilhar o dia a dia. E aí, como resolver a equação?
Você quer somar. Ele quer deixar como está. Mais pra frente, mais pra frente. É isso que ele diz. E você sente que ele nem quer muito, nem quer tanto, parece que só fala para cumprir protocolo, para deixar o assunto morrer, para deixar mais pra lá, mais pra frente, mais pra frente. E você começa a se perguntar: mais pra frente até quando?
Um corpo de 30 não é igual a um corpo de 35. Uma cabeça de 30 não é igual a uma cabeça de 35. Você não tem mais tanta paciência, tanta disposição para acordar de duas em duas horas para dar de mamar. Não tem mais tanto saco para correr, pular, brincar de esconde-esconde, ler quatrocentas e vinte vezes a mesma historinha. Para ele tanto faz, o sono é pesado e não é ele que vai dar o peito no meio de uma noite gelada. Não é ele que vai engordar vários quilos, não é ele que vai se sentir indesejado, não é ele que vai ter enjoo com cheiro de perfume, não é ele que vai ter um medo danado de não conseguir dar conta, não é ele que vai ter pesadelos com o nascimento da criança. Sim, mulher sempre pensa que o filho pode nascer com algum defeito, sem algum dedo, com alguma síndrome. Não é ele que vai se cagar de medo na hora do parto, não é ele que vai ter contração, não é ele que vai falar todos os palavrões do mundo na hora da dor, não é ele que vai levar diversos pontos.
Agora você vai me chamar de injusta. Não, não sou. Sei que os homens também têm muitos medos. Na verdade, odeio generalizar, mas acredito que eles sejam muito inseguros. Um medo absurdo de perder a liberdade, de achar que vai ser tudo muito difícil, de achar que um filho complica a vida, de achar que uma série de coisas vai morrer na vida deles. Acho que uma criança simplifica as coisas e nos dá a garantia de não emburrecer nunca, pois nos ensinam todo santo dia.
Os homens adoram dizer que as mulheres são malucas, que complicam as coisas, que são difíceis de entender. Tá, eu sei que não somos tão fáceis. Mas a gente sempre sabe o que quer. Parece que os homens são indecisos. Vivem com crises existenciais. Tem a crise existencial do casamento, a crise antes do primeiro filho, a crise disso, a crise daquilo. Quantas crises, meu Deus!
Para quem tem um relacionamento estável, chega um momento em que esse assunto é levantado, discutido, combinado. Não dá pra você furar as camisinhas e dar o golpe da barriga. Não dá pra você "esquecer" a pílula e dizer olha, que surpresa, você vai ser pai. Isso tem que ser conversado mais de uma vez. Debatido. E muito bem pesado. Se você quer e ele não tem certeza, opa, vocês têm um problema. Se você quer daqui a um ou dois anos e ele não tem aquela super vontade e apenas diz ah, acho que tem que ser mais pra frente, mais pra frente, daqui a uns cinco anos, opa, vocês têm um problema.
A mulher não precisa do marido para ter filho. Pode fazer uma produção independente e, opa, engravidei. Já o homem precisa de uma mulher caso queira ter um bebê. E essa questão é bem importante. É claro que todo mundo pode optar pela adoção. Mas estou falando de carregar um filho nove meses na barriga.
Não dá para adiar algumas coisas. Um assunto desses, por exemplo, muda completamente o rumo de um casal. Uma coisa é você e ele debaterem se querem um ou dois filhos. Dois ou três filhos. Você quer ter apenas dois. Ele quer três. Outra coisa é você querer e ele não ter certeza. É você querer antes e ele querer mais pra frente, mais pra frente.
Por maior que seja o amor que vocês tenham um pelo outro, tudo deve ser colocado na balança. E se ter um bebê for realmente essencial na sua vida e você não estiver disposta a deixar mais pra frente pode ser que tenha que optar por outro estilo de vida. Uma família com uma mãe e um nenê. Porque nem sempre a gente pode carregar nas costas os medos do outro. Se você já se resolveu consigo mesma, ele que dê um jeito e se resolva com ele. Ou então você vai cuidar da sua vida. Sozinha.