Uma crônica sem título

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Ando um pouco impaciente. Não sei se um dia cheguei a ter alguma paciência, acho que não. Mas ando impaciente com a vida e com as pessoas. As coisas demoram pra acontecer. E eu tenho tanta pressa. É tanta coisa pra fazer que não sei se dou conta. É tanta coisa pra fazer que algo me trava, me impede de ir. Contraditório, eu sei. O mais lógico seria ter muito o que fazer e de fato fazer. Mas eu faço. Mentalmente. E aí quando chega em cima da hora eu me viro em novecentas e consigo dar um jeito de super-herói em tudo. Sempre foi assim. Na época da escola eu deixava pra estudar na última hora. O resultado foi uma bela e trágica reprovação. Dizem que a gente aprende com os erros. Eu preciso errar muito pra começar a fazer as coisas direito.

O que é mesmo fazer direito? O que é mesmo ser normal hoje em dia? Acho tão fora de moda utilizar essa linha imaginária: daqui pra cá é normal, daqui pra lá é loucura. Todo mundo tem uma pitada de tudo. É esse o tempero das pessoas: um tablete de insanidade e outro da tal normalidade. Eu acho meio chato ser normal. É por isso que desde pequena me acham esquisita. Sardenta, sardinha, pintada. Me senti durante algum tempo inadequada, diferente. E descobri que isso não é ruim, não.

Ando um pouco distraída com meus defeitos. Tenho aprendido com eles um pouco sobre tudo. Ando mais tolerante com meus erros. E mais aflita ao perceber as maldades do mundo. Isso me traz uma descrença no ser humano. Sabe, as coisas andam difíceis de engolir. Não sei lidar com egos, disputas de poder, puxadas de tapete, fofocas de sexta série y otras cositas más. Tenho mais o que fazer da vida. E acho que nunca estive tão focada na minha vida, nas minhas coisas, no meu futuro. É claro que já fui do clube da fofoca. Sou mulher. E já tive 18 anos. Mas hoje tenho a minha casa, as minhas contas, minha filha peluda, uma pessoa pra dividir a vida, o banheiro pra arrumar, roupas e louça para lavar, minha família que mora longe. Tenho meu trabalho, meus sonhos, meus projetos. Tenho ocupação. E descobri que quando eu vivia de fofoquinha tinha muito tempo livre. A cabeça ficava pensando besteira, então eu tinha tempo de sobra para falar da vida alheia. Quem nunca comentou do cabelo da fulaninha? Quem nunca especulou sobre a vida do outro? O problema é quando vira esporte e rotina. Aí é prejudicial, chato e sem graça. Confesso que morro de preguiça disso. É cansativo e desgastante. É tão mais legal cuidar da própria vida e ir atrás dos sonhos. E mais saudável também.

De vez em quando me perco dentro de mim. É engraçado, mas fico contando coisas para meus botões. Listando tudo que quero fazer até o fim da vida. É tanta coisa que acho que não vai dar tempo. Vou torcer que dê. Porque a vontade de fazer é imensa. E intensa. Deve ser por isso que ando mais quieta, mais na minha, escondida em um cantinho de mim. Fico querendo guardar as coisas para não deixar escapar nada entre os dedos. É uma vontade louca de fazer. Ando escondida, eu sei. Vivendo por dentro e por fora. Às vezes aos trancos e barrancos. Mas acho que a vida é isso mesmo, um dia é bom e o outro é uma porcaria. Não dá pra ser feliz o tempo todo. Por sinal, desconfio de felicidades instantâneas e constantes. Soa meio falso. Gente de carne e osso é alegre e triste. É inconstante. Porque a vida é montanha-russa. E eu adoro andar nela. Por isso vivo sempre na fila do parque.




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