Eu não ia falar sobre esse assunto, mas mudei de ideia. É que esse é o assunto mais comentado do país. Por enquanto, todo mundo esqueceu que meninos e meninas de oito anos de idade pedem esmola em sinaleiras. E que existem mendigos. E políticos corruptos. E filas imensas em hospitais. E assaltos, sequestros e roubos. Por enquanto, todo mundo esqueceu que animais são espancados até a morte, que crianças são atiradas pela janela e que existe fome, miséria e aquecimento global.
“Houve um estupro dentro do Big Brother”, dizem. “A Rede Globo distribui bebida à vontade, estimula esse tipo de acontecimento”, completam. Então vamos por partes: eu não sei se houve um estupro dentro do BBB. Vou dizer o que vi: a participante Monique bebeu um monte. Antes disso, pediu para o Daniel dormir com ela. Se o Daniel bebeu muito eu não sei. O que sei é que eles se beijaram. E depois aconteceu uma série de movimentos suspeitos embaixo do edredom. O que rolava ali embaixo? Não sei dizer. Não sei se foi sexo, se foram carícias, se ele estava sem roupa, se ela estava nua. Eu não sei de nada, pois não tenho uma visão privilegiada, que ultrapassa o edredom. Além disso, estava escuro. A menina estava parada, mas não sei se estava de fato desmaiada. Às vezes, quando eu bebo além da conta, fecho os olhos e tento me situar. O mundo gira, é claro. Às vezes, quando eu bebo além da conta, fecho os olhos e capoto. Sobre o fato da Rede Globo distribuir bebida à vontade, me desculpe, mas todo mundo já foi uma vez na vida em festa com bebida liberada. Ninguém é criança, é preciso saber o limite de parar. Agora, se a pessoa não sabe beber daí já é outra história.
Muita gente está culpando o programa, o apresentador, a direção, o Daniel, a Monique. O programa é um reality show, que uns gostam e outros não. O curioso é que quem não gosta (e inclusive fez campanha contra o BBB) está a par de todo esse assunto. E palpitando adoidado. É impressionante a quantidade de juízes e deuses que existe no Twitter e na vida. O apresentador do programa é contratado da emissora, ele não é pai e mãe dos participantes. A decisão é tomada pela direção. Da mesma forma que se você trabalha em uma empresa tem um chefe. Teve gente falando de racismo. O Daniel é negro. E daí? A Monique é loira. E daí? Não acredito que em 2012 iremos debater esse assunto. O que importa não é a cor da pele, mas o que a gente leva dentro do peito.
Então, novos fatos aconteceram. A Monique foi chamada no confessionário. Um vídeo, no qual se ouve a voz dela dizendo que não lembrava de nada, vazou na internet. A frase que mais me chamou atenção foi “ele foi muito mau caráter se fez sexo comigo dormindo”. E eu concordo plenamente. Não importa se ela bebeu demais. Não importa se ela tem corpão e usa roupa curta. Tem uma visão muito machista que acha que se a mulher está bebaça e de saia curtinha ela está pedindo. Pedindo o quê? Cada um usa a roupa que quer. E bebe o quanto quer. Mas aprendi com minha mãe o seguinte: a gente nunca deve perder o controle quando bebe. Por isso, se eu vejo que passei do limite eu paro. Mas, sim, eu já passei do limite. O cara tem que ser um tremendo filho da mãe para transar com uma mulher desacordada. Mas eu não sei a quantidade de bebida que ele tomou. E nem se agiu de má fé. O que sei é que ele disse para a menina que rolaram só dois beijos e mão aqui e ali. E deu. Isso é mentira e a gente sabe.
Não sou juíza e entendo bem pouco de leis. Mas sei que é muito fácil apontar o dedo e julgar o outro. É fácil dizer o que deve ser feito. Difícil é saber a verdade. É tentar ver com clareza, sem nenhuma emoção ou impulso. Não estou a favor de ninguém, mesmo porque não acho que isso seja uma disputa, uma briga. Acho que a verdade vai aparecer. Daniel foi expulso do programa. Não sei o que vai acontecer com ele. Se vai prestar depoimento, se será preso, qual será o destino do rapaz. Também não sei o que vai acontecer com a Monique. O que sei é que sempre existem dois lados da história. E justamente por isso a gente deve cuidar o que fala, afinal, ninguém estava embaixo do edredom para saber o que realmente aconteceu depois daquela festa.