Dá
muito trabalho manter as aparências e agir naturalmente. A coisa não é bem
assim como você pensa, nem tudo passou, nem tudo é leve e tranquilo. Tem muita
reviravolta no peito, mágoa quebrada no estômago, azedume que não passa e
queima a garganta. Tem muita dor guardada no infinito, tem muito a remendar,
tem a lamentação pelo não dito.
A
gente teima em não dar o braço a torcer, tenta virar a mesa, implora pra não
sofrer. Não adianta, a culpa atormenta o peito, sacode as janelas, invade a
sala, o quarto, os buracos e frestas. A gente se contorce por dentro, tenta
acalmar o pensamento, vira para lá e para cá, tenta achar o que já foi perdido
faz tempo.
E a gente mente tanto dizendo que tá tudo bem,
que tá tudo em paz, que passou, que não dói mais, que já virou lembrança
distante. No fundo ainda dói de uma forma bagunçada, revirada, transtornada.
Mas isso ninguém vai saber.