Escrevo para você, que acha que tenho uma vida perfeita. Vem
aqui, deixa eu te contar alguns segredos que talvez nem sejam tão secretos
assim. Não sei por qual motivo a gente tem a sensação de que a grama do vizinho
é mais verde, que a vida do outro é mais interessante, movimentada, feliz. Todo
mundo tem lá suas glórias e deslizes.
Durante muito tempo tive um grave problema para aceitar quem
eu era. Talvez fosse medo, covardia, insegurança. Talvez fosse um sentimento
sem nome. Talvez fosse essa minha fome exagerada de viver. O fato é que minhas
escolhas dizem quem eu sou. E hoje, com mais de 30, me sinto segura ao dizer
que fiz certo o que muitos pensaram que era errado.
Eu já sofri muito com os desamores. Me apaixonei por pessoas
erradas, me perdi de mim, culpei pessoas por uma infelicidade que morava no meu
peito. Que bobagem, o que é nosso é nosso, é maldade jogar nas costas do outro
uma coisa que te pertence.
Sofri bullying na escola quando era pequena. Meu rosto cheio
de sardas eram motivo de piadinhas fora de hora. Depois eu superei. Perdi alguns
amigos, fiz outros. No meio disso tudo descobri que mesmo o teu melhor amigo um
dia vai te magoar e te deixar na mão. Faz parte da vida, do aprendizado e da
construção da personalidade, afinal, a gente uma hora precisa entender que
ninguém é perfeito.
Já me desentendi com familiares e depois de anos fiz as
pazes. Já bati muito a porta do meu quarto, quando ainda morava com meus pais. Já
briguei com meu pai por motivos fúteis. Já fiz mal criação, já fui mocoronga,
já foram mocorongos comigo. E sobrevivi mesmo assim.
Gastei alguns dinheiros na sala do analista e descobri que
faz bem e é bom. Mas também percebi que ninguém, ninguém mesmo, te salva. É você
e você mesmo. E a gente precisa, sim, urgentemente aprender a conviver com
todos os fantasmas que habitam nossa morada interna.
Já quis ser muitas coisas, hoje quero apenas ser quem eu sou
e ainda assim me divertir. A vida é muito curta pra ficar de cara amarrada e
arrumar problema em cada esquina. Quero mais é ser leve. E livre.
Aprendi que a vida fica bem mais colorida depois que a gente realiza um sonho. E que sonhos são muito, muito poderosos. Se a gente acredita e batalha, eles acabam acontecendo, por mais que demore anos.
Hoje posso dizer que me descubro cada vez mais. E agradeço
por isso. A gente precisa se descobrir todo santo dia, de alguma forma, por
outro ângulo. Acredito que tudo tem solução, sempre tem uma saída, sempre
existe uma perspectiva. E acho que isso me dá força pra seguir em frente quando
encontro algum obstáculo. Sei que nada vem de graça, mas acredito que ainda
existe uma certa bondade nas pessoas, basta a gente procurar o melhor delas.
Não sou rica, mas vivo bem. Minha conta às vezes fica no
vermelho, depois rosa, azul, verde. É um arco-íris. Já magoei e me magoaram. Já
perdi quem era importante na minha vida. Já enfrentei doenças e tragédias na
minha família. Já pensei que fosse morrer mais de uma vez. Luto diariamente
contra uma Síndrome do Pânico e uma psoríase no couro cabeludo, mas entendo que
certas coisas acontecem apenas para mostrar o quanto somos valentes. É por isso
que não reclamo, aceito e entendo que um dia as coisas vão melhorar.
Demorei vinte e sete anos para encontrar e conhecer o amor. E
percebi que ele chegou quando eu estava preparada, calma, serena, sem pressa,
sem desespero, sem ânsia. Ele me mostrou que é poderoso e que dois são sempre
mais fortes do que um.