Não sei direito como te
falar isso, mas vou me esforçar para ser o mais natural, sincera e prática
possível. Quero dizer que é um esforço terrível, já que de prática não tenho
nada. Tudo eu questiono, reflito, pondero. Gostaria de ser mais ágil no pensamento,
mais certeira nas ações e, também, mais racional. É muito cansativo viver na
corda bamba dos sentimentos.
As pessoas nos escondem
o jogo, só mostram o lado colorido das relações. Me desculpe, acho que me
expressei mal. Elas até mostram o lado preto e branco, as diferenças, as
dificuldades. Mas tudo acaba no “e foram felizes para sempre”. Não é justo com
você. Assim como não é justo comigo.
Estou exagerando? Por favor,
observe alguns livros, filmes e novelas. Os casais passam por uma série de
desencontros e provações. No final, “abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim”.
Tudo acaba em pizza, em casamento, em filho, em viagem. Na vida real nem sempre
as coisas acabam bem desse jeito bonito de ler e ver.
A família da moça não
aceita a família do moço porque ele é pobre. O ex atrapalha a vida da mocinha e
inferniza o mocinho. O coitado do moço tem uma doença grave. É sempre assim. Mas
lá no finzinho tudo fica bem, todo mundo fica feliz e contente.
A vida que eu vivo não
tem último capítulo. É uma coisa nova a cada dia. Não tem último episódio para
tudo se desenrolar. Não tem última temporada. Não tem nada disso. Eu não sei
quando as coisas vão terminar, por isso vivo o hoje da melhor forma que
consigo. Mas é bem verdade que não consigo fazer tudo (quem consegue?).
Acho um desserviço essa
coisa de final feliz. Primeiro, porque a gente não sabe quando é o final. Segundo,
porque felicidade instantânea e eterna não existe em uma vida a dois. Lá na
novela que você assiste confortavelmente no sofá de casa, a protagonista e o “esse
cara sou eu” se desencontraram, mas logo se ajeitam e vão ser felizes “ad
infinitum”. Ele não tem bafo, não deixa a tampa do vaso levantada, não esquece
a toalha molhada na cama, não deixa o tênis na sala, nunca está cansado demais,
não se atrasa, não viaja, sempre presta atenção no que ela diz, não tem
defeito, não tem mania, não tem personalidade forte, não é genioso, é um
príncipe encantado irreal. O relacionamento deles nunca é monótono, não tem
rotina, não tem briga, não tem discussão, não tem cara feia, não tem diferença,
não tem descompasso. Eles se dão bem na cama, na mesa e no banho. Todo santo
dia. Ela sempre goza, ele sempre tem vontade, ela lava, passa, cozinha, bate um
bolo, se perfuma, malha e sorri. Tudo nos trinques.
Nenhuma relação é fácil
e simples. É interessante, todo mundo quer alguém. Mas ninguém percebe que
muito mais difícil do que conseguir esse alguém é manter o relacionamento sadio
e forte. As pessoas se preocupam com o começo e com o final. Mas o meio, que é
aquilo que a gente vive no dia a dia, fica esquecido, jogado em alguma caixa de
papelão pegando pó e juntando mofo. É por isso que as coisas terminam. Quer saber?
O meio é o que mais importa. É o que merece atenção, cuidado. Até o fim.