Meu pai me ensinou que devemos aprender uma coisa nova a cada dia. E eu tento. Todos os dias me esforço para ser uma pessoa um pouco melhor. Quando acordo, logo penso: que eu seja melhor que ontem. Que minha cabeça esteja mais aberta, que meu humor esteja melhor, que eu não brigue por besteira, que eu não cometa os mesmos erros do passado, que eu tenha serenidade, que eu consiga vencer o dia, que eu saiba discernir o certo do errado. A minha parte, pelo menos, estou fazendo. Ou pelo menos tentando.
Me impressiono com quem não tenta. Tenho uma vizinha, que mora exatamente três andares abaixo de mim, bem bonita. Segundo o que dizem, é advogada e divorciada. Tem uma senhora que trabalha com ela diariamente. Há alguns dias, tivemos uma obra na minha sacada. Obra feita pelo condomínio. Os pedreiros tiveram todo o cuidado do mundo, colocaram uma lona, estavam trabalhando dentro do horário permitido e seguindo todas as normas de segurança. Menos de vinte e quatro horas depois do começo da obra, a tal vizinha foi ameaçar o síndico. Disse que podia processar o condomínio, o síndico, o zelador e toda a minha árvore genealógica. Para não arrumar confusão, os pedreiros foram até a sacada dela, fizeram a tal limpeza que ela pediu e me mostraram o "lixo" que estava incomodando a vizinha encrenqueira. Era um pó de nada. Não contente, ela bateu na minha porta e perguntou quando a obra ia chegar ao fim. Eu, calma e serenamente, respondi que terminaria em breve. E que se ela estava estressada, imagina eu, que tinha diariamente dois homens entrando e saindo da minha casa, sujando a minha sala e fazendo barulho enquanto tentava trabalhar. Ela seguiu discursando, fui perdendo a paciência e disse que a obra era do condomínio, que se ela quisesse reclamar com alguém deveria falar com o síndico. Soube, depois, que ela xinga todos os porteiros e a moça que limpa os corredores e elevadores do prédio.
Sou incapaz de maltratar uma pessoa. Incapaz. Ninguém tem culpa dos meus problemas e não posso jogar nos outros frustrações que são só minhas. Se eu quebrei a unha, estou com dor, se a conta está no vermelho, se briguei com o namorado, se pisei no cocô ou se a minha colega de trabalho é infernal ninguém tem nada a ver com isso. Não posso jogar no colo do outro uma culpa que não é dele. Falta paciência. Falta respirar fundo. Falta deixar pra lá o que merece ser deixado pra lá.
O porteiro do meu prédio merece um bom dia, boa tarde, boa noite, afinal, ele está fazendo o trabalho dele, ele não é meu empregado, meu servo, meu escravo, nem nada parecido. Ele é uma pessoa, assim como eu. E merece ser tratado com respeito, bem como todas as outras pessoas do meu convívio. Não simpatizo com o zelador aqui do prédio, porém sempre sou educada com ele. Não fico de conversinha, não dou chocotone no Natal, não faço agrado, mas sou educada. Educação é o mínimo que uma pessoa merece receber da gente. O mínimo. E tem gente que esquece disso. Ou tem a memória curta. Ou a memória só funciona para o que a pessoa acha importante.
Tem um restaurante aqui ao lado e volta e meia vou ali buscar comida. As moças do caixa, o mocinho que fica na porta, os garçons, todos eles me conhecem. E eu sou legal com todos eles. Sempre que vou ali encontro uma moça carrancuda, que não cumprimenta ninguém. Todo mundo conhece ela também, mas ela não gosta muito de sorrir, o que é uma pena, pois ficaria bem mais bonita e seria mais feliz. Não entendo quem vive de mal com a vida, quem não gosta de interagir com o outro, quem não se esforça para fazer a vida ficar um pouco melhor. É tão bom sorrir e receber de volta um sorriso sincero. Não custa nada, não é dolorido, não arranca pedaço.
Hoje em dia é tão difícil ver alguém elogiando, dizendo uma palavra de carinho ou dando um sorriso cúmplice. Eu diria que é raridade. Em compensação, julgamentos, dedos apontados, críticas e reclamações nunca estiveram tão em alta. Que pena. Falta mais sensibilidade, leveza e carinho no mundo. As pessoas esquecem que quando a gente abre os braços para o mundo ele abre os braços para a gente. E ainda nos abraça apertado.