Que parte as pessoas ainda não entenderam?

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Algumas coisas me tiram - e muito - do sério. Uma delas é o julgamento pela aparência. Se eu ando pela rua de saia curtinha o problema é meu, certo? O motivo não importa: posso estar com calor ou com vontade de mostrar o resultado da malhação pesada na academia. O fato é que as pernas são minhas, bem como a saia. 

Foi motivo para debate nas redes sociais a notícia de que o Gerald Thomas colocou as mãos dentro do vestido da Nicole Bahls em um evento que aconteceu no Rio de Janeiro. Ela estava trabalhando e ele sentiu vontade de apalpar a periquita dela. Então, sem o menor pudor ou cerimônia, simplesmente foi lá e fez. Ela ficou sem graça, se esquivou, mostrou claramente que estava descontente, desconfortável e desgostosa com a atitude dele. A partir daí entraram em cena os julgamentos.

Primeiro, Nicole já posou pelada. Segundo, vive fazendo topless na praia. Terceiro, rebola de biquíni em rede nacional. Quarto, troca de namorado como quem troca de calcinha. Quinto, (por falar em calcinha) ela vive pagando calcinha em fotos. Sexto, o Pânico é um programa que tira onda de todo mundo, então tudo bem alguém meter a mão entre as pernas dela. Sétimo, ela adora um vestido curto. Oitavo, dizem que as panicats fazem programa. Nono, ela é gostosa e tem que arcar com as consequências. Décimo, ela provoca. 

Resumo da ópera: se você é dona de um belo corpo, adora se sentir bonita e poderosa, gosta de usar roupas curtinhas, tira a parte de cima do biquíni na praia para não ficar com marca ou é namoradeira, aceite o fato de que o mundo inteiro pode passar a mão em você com a maior naturalidade. 

Ainda que eu saísse com uma blusa transparente e saia-cinto, ninguém tem o direito de me tocar ou dizer meia dúzia de palavrinhas nojentas. Não, eu não estou "pedindo" nada. Quem pensa que mulher com roupa curta ou decote está pedindo algo tem é que rever todos os conceitos. Urgente. Hoje mesmo ouvi uma mulher (isso mesmo, uma mulher!) dizer que nunca passaram a mão nela porque ela nunca deu motivo, já que é dona de uma postura exemplar. 

Vou te contar uma história. Há alguns anos, em uma manhã, eu estava na parada de ônibus. Vestia calça, blusa, tênis e casaquinho. Vi que um cara estava se aproximando, tremi internamente. Cheguei a fechar os olhos e pedir mentalmente "não me assalta, por favor". A rua estava deserta. Ele não me assaltou, não. Apenas abriu as calças, tirou o órgão genital e o esfregou na minha bunda. Pensei que ia ser estuprada, mas por um milagre avistei o ônibus e o cara saiu correndo. Não vi direito o rosto dele, mas senti um nojo infinito. E, não, eu não estava com roupa provocante. Nem fiz cara sedutora, já que estava sonolenta e esperando um meio de transporte. Por isso, certas "teorias" pra mim não colam. Nada justifica um homem encostar em uma mulher sem o consentimento dela. Nada. 

O conceito de certo e errado não existe por acaso. Gente que pensa que é normal um homem bolinar uma mulher é o mesmo tipo de gente que diz que a fulana estava "pedindo para ser estuprada", já que estava de vestidinho micro. Que mundo é esse? 

A Nicole Bahls é gostosa, sim. E sabe que é. Mas ela não é um pedaço de carne que qualquer um pode meter a mão quando bem entender. Nem ela e nem nenhuma mulher neste planeta. Respeito é fundamental. E não é não. Os homens (e as mulheres, já que tem muita mulher machista dando sopa por aí) precisam respeitar quem anda de biquíni ou roupa de astronauta; seja ela balconista, advogada, dançarina, secretária, médica ou prostituta. Não importa a profissão, quanto mede o busto ou a forma que uma mulher sorri. Antes de tudo ela é um ser humano. 
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