Eu achei que estava curada. Sei que as opiniões se dividem, uns dizem que há cura, outros não. Há ainda os que falam que isso é asneira, papo de gente carente e/ou que quer aparecer. Ou então coisa de doido. Talvez eu seja, sim, carente. Talvez eu goste, sim, de um confete. Talvez eu seja, sim, anormal. E quem não é? Mas, por favor, não me julgue sem saber da minha história e de tudo aquilo que trago no peito.
Ela já veio e foi. Me aterrorizou e deu trégua. Por ela, passei noites em claro, com um medo constante e assustador. Com ela, reaprendi alguns sentidos da vida e percebi o quanto somos pequeninos e indefesos. Dela, quero distância. Mas parece que ela me ama tanto que quer ficar comigo. Ou talvez me odeie e venha me assombrar vez ou outra.
O problema da Síndrome do Pânico é que você se sente preso num labirinto. À noite, com chuva, sem ninguém te esperando do outro lado, sem iPhone ou relógio. Você fica ali, tentando achar uma saída e não enxerga nada, a não ser a escuridão e um arrepio que percorre a alma. Nunca tive uma dor física extrema, que me tirasse os sentidos. Mas a dor do pânico, apesar de extremamente real, vem de dentro. Explode feito um foguete no ano-novo. Só que não explode feliz, com brindes e abraços. Explode de um jeito perturbador e surreal. Os sintomas, físicos, incluem taquicardia, angústia extrema, calor e frio, garganta fechando, sensação que a qualquer momento você vai enlouquecer, desmaiar ou sofrer um derrame. O peito dói, o mundo gira, um mal-estar se instala, surge a falta de ar, as palpitações, os formigamentos, o medo de que uma tragédia aconteça, o medo que a morte chegue e te leve sem a menor consideração. E tudo isso pode surgir durante um banho, uma caminhada, uma leitura, um filme engraçado. Ou com alguma notícia que abala. Dura pouco, segundos, minutos, momentos que parecem não passar. E o medo faz o coração ficar minúsculo. Faz surgir o medo de ter medo. O medo de tomar banho e ter um infarto, o medo de estar dormindo e simplesmente nunca mais acordar, o medo de engasgar com uma espinha de pescadinha e morrer sufocada. Medo, medo, medo.
Então você engole orgulhos e preconceitos bobos e busca ajuda profissional e apoio familiar. Começa a ver melhoras, entende que as crises vem e vão, que um dia elas irão e não mais voltarão. E isso enche a cabeça de esperança e uma alegria sincera. Até que o próximo ataque vem e desmorona o castelinho de areia. E você recomeça todo o processo novamente até o dia em que percebe que não precisa mais de medicação. E volta a viver uma vida de "verdade", sem comprimido para crises dentro da bolsa, sem ficar preocupada se saiu com a carteirinha do plano de saúde, o remédio de todos os dias e o remédio que ajuda a crise a passar. E se sente livre, como se tivesse ganho sua vida de volta. Como se tivesse havido um reencontro com você mesma.
Em uma tarde qualquer, você faz as unhas e começa a sentir tudo aquilo de novo. Faz todos os exercícios de respiração e pensa não-não-isso-não-vai-me-atingir-sou-mais-forte. E o pânico começa a fazer cabo de guerra. E você vence. Dias depois, surge uma dor no braço esquerdo. Formigamentos, sensações estranhas. Você lembra da sua avó, que morreu de AVC. Lembra do seu avô, que teve um infarto. Procura afastar os pensamentos, mas eles insistem em ficar martelando sua cabeça. E o formigamento se espalha para o outro braço, aquela sensação de peso e dormência que angustia. Não adianta te falarem que é porque você ficou dez dias parada e voltou para a academia, pois você acha que vai acontecer uma horrível tragédia. Surgem fisgadas nas pernas e no coração. E você começa a sentir o ar fugir. Passa a noite em claro pensando que se dormir vai ter um AVC e não vai conseguir pedir socorro a tempo. E recomeça o cabo de guerra. Só que dessa vez o pânico ganha.