Mil desculpas para nós

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Desculpa, mas você é um estúpido.
Fica bravo quando alguém te fecha no trânsito, então abre a janela e xinga meio mundo, mostra o dedo do meio, desce do carro todo valente puxando briga e estraga seu dia por coisas irrelevantes.

Desculpa, mas você é um cego.
Não enxerga que o outro precisa de uma palavra querida, de um abraço forte, de um olhar que tudo compreende, de um sorriso que tudo diz.

Desculpa, mas você é um ignorante.
Acha que tudo se resolve na base do palavrão, do empurrão, do não.

Desculpa, mas você é um trapaceiro.
Fura a fila do banco, apressa o passo para pegar o primeiro lugar, estaciona no lugar de idoso ou deficiente físico. 

Desculpa, mas você é um mal educado.
Acelera quando o sinal ainda está vermelho, não dá passagem para o pedestre, entra no elevador e não segura a porta para quem está chegando.

Desculpa, mas você é um reclamão.
Se queixa da vida, do governo, da saúde, da sujeira na cidade, do colega da mesa ao lado. Mas não se move para mudar.

Desculpa, mas você é um egoísta.
Não pensa na dor do outro, não mede as palavras, não pensa que ninguém é igual a ninguém e que o que não te machuca pode ferir alguém.

Desculpa, mas você é um mentiroso.
Diz que não doeu, que não lembra mais, que nunca amou, que está tudo bem e que não precisa de ajuda.

Desculpa, mas você é um egocêntrico.
Se acha o centro do universo, acha que tudo tem a ver com você, pensa que todo mundo quer o que você tem.

Desculpa, mas você é um falso.
Não sabe o que significa sinceridade e seu esporte preferido é falar mal à distância.

Desculpa, mas você é um invejoso.
Deseja o que o outro tem, arruma defeito em tudo que o outro faz, fica descontente com a alegria que brilha em outro olhar.

Desculpa, mas você é um descarado.
É comprometido e não sossega, não consegue não olhar para quem passa ao lado.

Desculpa, mas você é uma farsa.
Diz que ama os animais e usa casaco de pele verdadeira, fala que a cidade está imunda, mas joga toco de cigarro no chão.

Desculpa, mas você não é tão bom quanto pensa.
Sua mãe te acha lindo, seu amor te acha ótimo, sua avó te acha incrível. Mas o mundo tem aproximadamente 7,2 bilhões de pessoas (pense nisso).

Desculpa, mas você não valoriza o que tem.
Discute com quem ama por besteira, dorme brigado, desliga o telefone na cara. Esquece que hoje a pessoa está ao lado, mas a vida tem rumos incertos e muitas vezes nos prega peças não tão bonitas.

Desculpa, mas você é fútil.
Se preocupa com o carro arranhado, com a unha quebrada, com o cabelo cheio de ponta dupla, com o quadril que só cresce, com a estria que surgiu na barriga. Não lembra que o que importa mesmo é o que está lá dentro, não essa casca que fica por fora.

Desculpa, mas você às vezes é um cretino.
Sabe que vai magoar e ainda assim magoa. Age de caso pensado sem dó.

Desculpa, mas você tem memória curta.
Usa e abusa da ingratidão, esquece daquele que te deu a mão, cuidou das feridas e embalou seu sono com a mais linda canção.

Desculpa, mas você esquece que as demonstrações importam mais que as palavras.
Por isso, diga que ama sua mãe, seu pai, sua irmã, seu irmão, seu cachorro, seu amor, seu primo, sua tia, seu avô. Não é feio, não é vergonhoso, não é careta. O amor é bonito e foi feito para ser demonstrado, abraçado, beijado e apertado.

Desculpa, mas você é um burro.
Precisa aprender que nada sabe e que cada novo dia é uma chance de aprender um pouco mais.

Desculpa, mas você não olha para o lado. 
Nem para baixo. Precisa entender que hoje está no topo, mas amanhã pode estar no subsolo. Além disso, não é melhor que ninguém só porque tem dinheiro, poder, status, nome na coluna social ou um helicóptero.

Desculpa, mas você é um estúpido.
E eu também.
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